As
verdadeiras experiências espirituais têm uma origem diferente.
Agora chegamos à pergunta: se todas estas várias
experiências e sentimentos vêm de nada mais do que os demônios são capazes de
possuir, quais são os tipos de experiências que são verdadeiramente espirituais
e santas? O que tenho que encontrar em meu coração, como um sinal seguro da
graça de Deus ali? Quais são as diferenças que mostram-nas serem do Espírito
Santo? Esta é a resposta: aqueles sentimentos e experiências que são bons
sinais da graça de Deus no coração diferem das experiências dos demônios em sua
origem e em seus resultados. Sua origem é a percepção da devastadoramente santa
beleza e amabilidade das coisas de Deus. Quando uma pessoa entende em sua
mente, ou melhor ainda, quando ela sente seu próprio coração cativado pela
atratividade do Divino, isto é um sinal inequívoco da obra de Deus. Os demônios
e condenados no inferno não experimentam agora, e nunca experimentarão nem um
pouco disto. Antes da queda deles, os demônios tinham esta percepção de Deus.
Mas em sua queda, eles a perderam, é a única coisa que eles poderiam perder do
seu conhecimento de Deus. Temos visto como os demônios possuem claras idéias
sobre como Deus é poderoso, sobre Sua justiça, santidade, e assim por diante.
Eles conhecem muitos dos fatos sobre Deus. Mas agora eles não têm um indício
sobre como Deus é. Eles não podem saber o que Deus é mais do que um cego pode
saber sobre cores! Os demônios têm uma forte percepção da terrível majestade de
Deus, mas eles não vêem Sua amabilidade. Eles têm observado Sua obra entre a
raça humana por estes milhares de anos, deveras com toda a atenção; mas eles
não podem ver um vislumbre de Sua beleza. Não importa quanto eles saibam sobre
Deus (e temos visto que eles sabem realmente muito), o conhecimento que eles
possuem nunca lhes trará a este alto e espiritual conhecimento de como Deus é.
Pelo contrário, quanto mais eles sabem sobre Deus, mais eles O odeiam. A beleza
de Deus consiste primariamente nesta santidade, ou excelência moral, e isto é o
que eles mais odeiam. É porque Deus é santo que os demônios Lhe odeiam. Alguém
pode supor que se Deus fosse menos santo, os demônios Lhe odiariam menos. Sem
dúvidas os demônios devem odiar qualquer Ser santo, não importa quem Ele seja.
Mas, certamente, eles odeiam este Ser ainda mais, por ser infinitamente santo,
infinitamente sábio, e infinitamente poderoso! Pessoas ímpias, incluindo aquelas
ainda vivas, verão no dia do julgamento tudo o que há para ver de Jesus Cristo,
exceto Sua beleza e amabilidade. Não há nenhuma coisa sobre Cristo que pudermos
pensar, que não será posta diante deles em poderosa luz naquele brilhante dia.
Os ímpios verão Jesus "vindo nas nuvens, com grande poder e glória".
(Mateus 13:26) Eles verão Sua glória visível, que é muito, muito maior do que
podemos imaginar agora. Os ímpios serão totalmente convencidos de tudo o que
Cristo é. Eles serão convencidos sobre Sua onisciência, à medida que eles virem
seus pecados repassados e julgados. Eles verão em primeira mão a justiça de
Cristo, à medida que suas sentenças forem anunciadas. Sua autoridade será feita
absolutamente convincente quando cada joelho se dobrar, e cada língua confessar
a Jesus como Senhor. (Filipenses 2:10,11) A Divina majestade será impressa
sobre eles em um modo totalmente efetivo, à medida que os ímpios forem lançados
no inferno, e entrarem no seu estado final de sofrimento e morte. (Apocalipse
20:14,15) Quanto isto acontecer, todo seu conhecimento de Deus, tão verdadeiro
e poderoso como possa ser, não valerá nada, e menos do que nada, porque eles
não verão a beleza de Cristo. Portanto, é esta visão da amabilidade de Cristo
que faz a diferença entre a graça salvadora do Espírito Santo, e as
experiências dos demônios. Esta visão ou percepção é que faz a verdadeira
experiência Cristã diferente de qualquer outra. A fé do povo eleito de Deus é
baseada nisto. Quando uma pessoa vê a excelência do evangelho, percebe a beleza
e amabilidade do plano divino da salvação. Sua mente é convencida de que isto é
de Deus, e crê nisto com todo seu coração. Como o apóstolo Paulo diz em 2
Coríntios 4:3,4: "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os
que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, que é a imagem de Deus." Isto é dizer, como foi
explicado antes, que os incrédulos podem ver que há um evangelho, e entender os
fatos sobre ele, mas eles não vêem sua luz. A luz do evangelho é a glória de
Cristo, Sua santidade e beleza. Justamente após isto nós lemos: 2 Coríntios 4:6
"Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu
em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face
de Jesus Cristo." Claramente, é esta Divina luz, brilhando em nossos
corações, que nos capacita a ver a beleza do evangelho e a ter uma fé salvadora
em Cristo. Esta luz sobrenatural nos mostra a superlativa beleza e amabilidade
de Jesus, e nos convence de Sua suficiência como nosso Salvador. Somente um
Salvador glorioso e majestoso pode ser nosso Mediador, permanecendo entre o
culpado, pecadores merecedores do inferno como nós mesmos, e um Deus
infinitamente santo. Esta luz sobrenatural nos dá uma percepção de Cristo que
nos convence de uma maneira que nada mais poderia fazer.
Uma
verdadeira experiência espiritual transforma o coração.
Quando o pior dos pecadores é levado a ver a Divina
amabilidade de Cristo, ele não mais especula porque Deus deve estar interessado
nele, para salvá-lo. Antes, ele não poderia entender como o sangue de Cristo
poderia pagar a penalidade pelos pecados. Mas agora, ele pode ver a preciosidade
do sangue de Cristo, e como Ele é digno de ser aceito como um resgate para o
pior dos pecados. Agora, a alma pode reconhecer que ele é aceito por Deus, não
por causa do que ele é, mas por causa do valor que Deus põe no sangue, na
obediência, e na intercessão de Cristo. Ver este valor e dignidade dá à pobre
alma culpada, um descanso que não pode ser encontrado em qualquer sermão ou
livreto. Quando uma pessoa chega a ver o fundamento apropriado da fé e da
confiança com seus próprios olhos, esta fé é salvadora. "Porquanto a
vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê
nele, tenha a vida eterna." (João 6:40) "Manifestei o Teu Nome aos
homens que do mundo me deste; eram Teus, e Tu mos deste, e guardaram a Tua
Palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de Ti. Porque
lhes dei as Palavras que Tu me deste; e eles as receberam, e têm
verdadeiramente conhecido que saí de Ti, e creram que me enviaste". (João
17:6-8) É esta visão da Divina beleza de
Cristo que cativa as vontades e atraí os corações dos homens. Uma visão da
grandeza visível de Deus em Sua glória pode esmagar os homens, acima daquilo
que poderão suportar. Isto será visto no dia do julgamento, quando os ímpios
serão trazidos diante de Deus. Eles serão esmagados, sim, mas a hostilidade do
coração permanecerá integralmente e a oposição da vontade continuará. Mas por
outro lado, um simples raio da glória moral e espiritual de Deus e da suprema
amabilidade de Cristo brilhando no coração, sujeita toda hostilidade. A alma é
inclinada a amar a Deus como se por um poder onipotente, de modo que agora não
somente o entendimento, mas todo o ser recebe e abraça o amável Salvador. Esta
percepção da beleza de Cristo é o principio da verdadeira fé salvadora na vida de
um verdadeiro converso. Esta é totalmente diferente de qualquer sentimento vago
que Cristo lhe ama ou morreu por ele. Este tipo de sentimentos confusos podem
causar um tipo de amor e alegria, porque a pessoa sente uma gratidão por ter
escapado da punição de seu pecado. Na realidade, estes sentimentos são baseados
no amor próprio, e de nenhuma maneira em um amor por Cristo. É uma coisa triste
que tantas pessoas são iludidas por esta falsa fé. Por outro lado, um vislumbre
da glória de Deus na face de Jesus Cristo causa no coração um supremo e genuíno
amor por Deus. Isto é porque a luz Divina mostra a excelente natureza da
amabilidade de Deus. Um amor baseado nisto está muito, muito acima de qualquer
coisa que venha de um amor próprio, o qual os demônios podem possuir tão bem
como os homens. O verdadeiro amor por Deus que vêm desta visão de Sua beleza
causa uma alegria santa e espiritual na alma; uma alegria em Deus, e um
regozijo nEle. Não há regozijo em nós mesmos, pelo contrário há regozijo
somente em Deus.
As
experiências genuínas espirituais têm resultados diferentes.
A visão da beleza das coisas Divina causará verdadeiros
desejos pelas coisas de Deus. Estes desejos são diferentes das aspirações dos
demônios, as quais acontecem porque os demônios sabem da maldição que lhes
esperam, e desejam que isto possa ser de alguma forma diferente. Os desejos que
vêm desta visão da beleza de Cristo são desejos naturais livres, como um bebê
desejando leite. Porque estes desejos são tão diferentes das suas falsificações,
eles ajudam a distinguir a genuína experiência da graça de Deus da falsa. As
falsas experiências espirituais têm a tendência de causar orgulho, que é um
pecado especial do diabo. "Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não
caia na condenação do diabo".(1 Timóteo 3:6) O orgulho é um resultado
inevitável das experiências espirituais falsas, embora elas sejam
freqüentemente cobertas com um disfarce de grande humildade. A experiência
falsa é enamorada com si própria e cresce assim. Ela vive da própria exibição
de um jeito ou outro. Uma pessoa pode ter um grande amor por Deus, e ser
orgulhosa da grandeza de seu amor. Ele pode ser muito humilde, e deveras
orgulhoso de sua humildade. Mas, as emoções e experiência que vêm da graça de
Deus são exatamente opostas. A verdadeira obra de Deus no coração causa
humildade. Elas não podem causar qualquer tipo de exibicionismo ou
auto-exaltação. A percepção da terrível, Santa, e gloriosa beleza de Cristo
mata o orgulho e humilha a alma. A luz da amabilidade de Deus, e esta somente,
mostra à alma sua própria vileza. Quando uma pessoa entende isto,
inevitavelmente começa um processo de fazer Deus maior e maior, e ele mesmo
menor e menor. Outro resultado da graça de Deus operante no coração é que a
pessoa odiará cada mal e reagirá a Deus com um coração e uma vida santa. As
experiências falsas podem causar uma certa quantia de zelo, e até muito do que
é comumente chamado religião. Contudo, não é um zelo pelas boas obras. Sua
religião não é um serviço de Deus, mas antes um serviço próprio. Isto é como o
apóstolo Tiago o coloca neste mesmo contexto, "Tu crês que há um só Deus;
fazes bem. Também os demônios o crêem, e estremecem. Mas, ó homem vão, queres
tu saber que a fé sem as obras é morta?" (Tiago 2:19,20) Em outras
palavras, os feitos, ou boas obras, são evidências de uma genuína experiência
da graça de Deus no coração. "E nisto sabemos que o conhecemos: se
guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os
seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade". (1 João 2:3,4)
Quando o coração tem sido encantado pela beleza de Cristo, como poderia
responder de outra forma?
A
visão da beleza de Cristo o maior dom de
Deus!
Quão excelente é esta bondade interna e a verdadeira
religião que vêm desta visão da beleza de Cristo! Aqui você tem as mais
maravilhosas experiências dos santos e anjos no céu. Aqui você tem a melhor
experiência do próprio Jesus Cristo. Embora sejamos meras criaturas, isto é um
tipo de participação na própria beleza de Deus. "Pelas quais Ele nos tem
dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis
participantes da natureza Divina." (2 Pedro 1:4). "Porque aqueles, na
verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este
[Deus], para nosso proveito, para sermos participantes da Sua Santidade."
(Hebreus 12:10) Por causa do poder desta Obra Divina, há uma habitação mútua de
Deus em Seu povo. "Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus
nele". Este relacionamento especial faz com que a pessoa envolta seja
tanto feliz como abençoada, como nenhuma criatura existente. Este é um dom
especial de Deus, que Ele dá somente para Seus favoritos. Ouro, prata, diamantes,
e reinos terrestres são dados por Deus para pessoas que a Bíblia chama de cães
e porcos. Mas o grande dom de contemplar a beleza de Cristo, é uma benção
especial de Deus para Seus queridos filhos. Carne e sangue não podem dar este
dom: somente Deus pode concedê-lo. Este foi o dom especial pelo qual Cristo
morreu para obter para Seus eleitos. Este é o sinal mais alto de Seu Eterno
Amor, o melhor fruto de Seus labores, e a mais preciosa aquisição de Seu
Sangue. Por este dom, mais do que qualquer outro, os santos brilham como luzes
no mundo. Este dom, mais do que qualquer outro, é seu o conforto. É impossível
que a alma que possua este dom possa perecer. Este é o dom da vida eterna. Este
é o início da vida eterna: aquele que o tem, não pode jamais morrer. Este é o
amanhecer da luz da glória. Ele vem do céu, tem uma qualidade celestial, e
guiará seu portador ao céu. Aqueles que possuem este dom, podem vagar no
deserto ou serem lançados pelas ondas do mar, mas finalmente chegarão ao céu.
Lá a faísca celestial se tornará perfeita e elevada. No céu, as almas dos
santos serão transformadas em uma brilhante e pura labareda de fogo, e eles
brilharão eternamente como o sol no reino de seu Pai. Amém.
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